
Na avenida Pedro Álvares Cabral, ao lado do Complexo Viário do Entroncamento, há anos um grupo de caminhoneiros tomou conta de um trecho da via pública. Na estreita alameda, os motoristas de carretas e caminhões-baú passam o dia estacionados, oferecendo serviço de transporte de mercadorias. O pedaço da asfalto ali é disputado – os veículos se posicionam em filas, bloqueando a passagem dos carros.
Os caminhoneiros que trabalham no local evitam dar entrevista, apesar das placas de fretes afixadas nos para-brisas indicando suas intenções. A maioria desconversou sobre a infração que estavam cometendo. “É a primeira vez que eu venho aqui. Só estou esperando um funcionário. Como falta espaço para estacionar, paramos aqui”, justifica um dos motoristas.
Uma coisa é certa: está cada vez mais difícil arranjar espaço para esses grandalhões no trânsito da capital paraense. Atualmente, a frota da cidade é composta por 318.776 veículos, destes, 7.700 corresponde a caminhões, segundo o Departamento Estadual de Trânsito (Detran-PA). O número pode até parecer pequeno em comparação ao volume de automóveis menores, que chega a 183.720, ou de motocicletas, estimado em 67.756. Mas basta combinar as ruas estreitas do centro da cidade e a concentração de caminhões nesta região, que logo passamos a ter uma boa ideia do problema.
“Em todos os pontos da cidade estão surgindo prédios, shoppings centers, grandes empreendimentos. E esses locais são o destino de boa parte da frota que circula atualmente na cidade. Tanto que nosso principal problema com este tipo de veículo são os engarrafamentos causados por fila dupla. Aí, junte as ruas estreitas e antigas, não apropriadas para a entrada desses veículos, e você tem um imenso transtorno para a população”, afirma Isaias Reis, coordenador de operações de trânsito do Companhia de Transportes do Município de Belém (CTBel).
Após uma rápida volta pela avenida Municipalidade, no bairro do Umarizal, nossa equipe pôde observar alguns flagrantes de desrespeito, como caminhões descarregando tijolos e água mineral, em fila dupla, por falta de espaço para estacionar. Avistamos até mesmo um caminhão da Prefeitura Municipal de Belém parado em fila dupla, enquanto esperava para receber carga, na esquina da Dom Romualdo Coelho.
Entretanto, as multas e apreensões acontecem em menor proporção. Nas contas de Reis, são executadas apenas cinco multas por mês, envolvendo caminhões. “As multas só podem ser lavradas se o veículo estiver estacionado sem o motorista por perto, o que quase sempre não acontece. Eles dão a desculpa de estar esperando alguém, de estar de passagem e dispersam”, explica.
CIRCULAÇÃO
“A única solução para o problema dos caminhões é a restrição da circulação desses veículos em Belém”, defende o promotor de Justiça Benedito Wilson Sá. Ele é o autor da ação civil pública de setembro de 2009, que deu origem ao decreto municipal nº 66.368/2011, que impõe regras para circulação de veículos de carga.
A lei estabelece a proibição de trânsito de caminhões acima de 5.500kg, de 6h as 21h (de segunda a sexta), em 13 vias. O trânsito de veículos de carga no Complexo Viário do Entroncamento também fica proibido de 6h as 9h no sentido Ananindeua-Belém e de 17h as 21h no sentido Belém-Ananindeua. Quem ficaria a cargo da fiscalização seria a CTBel.
As únicas vias de acesso total seriam as ruas nos arredores das avenidas Pedro Álvares Cabral, Bernardo Sayão, Perimetral, Augusto Montenegro e da rodovia Arthur Bernardes. “Em março do ano passado, foi dado um prazo de 90 dias para a CTBel implantar as medidas, depois ela pediu uma prorrogação de mais 90 dias. Quando estava para expirar o prazo ela simplesmente suspendeu o projeto”, revela o promotor.
Segundo a CTBel, o decreto está sendo aplicado, só que parcialmente. No momento, a restrição aos caminhoneiros é o acesso e a saída de Belém. Das 6h às 9h e das 17h às 21h não pode haver trânsito de saída e entrada de veículos pelo Entroncamento. “Tivemos reunião para ajustar alguns pontos do decreto, mas ainda não temos previsão para o andamento das obras”, afirma Reis.
O MP também propôs, através de ação civil pública, a reordenação do estacionamento de caminhões no Entroncamento. As mudanças preveem alterações no fluxo de veículos, de paradas de ônibus e fiscalização do Detran, CTBel e Polícia Rodoviária Federal. O estacionamento de caminhões na BR-316, próximo da entrada da Augusto Montenegro, seria eliminado para se tornar uma via de livre acesso. “O projeto já foi encaminhado há mais ou menos 20 dias ao Dnit (Departamento Nacional de Trânsito), para liberar as obras”.
Fonte: Diário do Pará (Foto: Marcelo Lélis)
Nenhum comentário:
Postar um comentário