A festa de Pêssach (Páscoa), a primeira das grandes festas judaicas mencionadas na Bíblia, é observada e comemorada pelos judeus mais do que qualquer outra festa do calendário judaico.
Uma pesquisa recente demonstrou que 99 porcento da população
israelense observa a festa de algum modo – comendo matsá, evitando comer
o que é proibido em Pêssach (chamêts), limpando suas casas
completamente, participando de um Sêder ou indo ao serviço religioso na
sinagoga.
Não é difícil explicar por que os judeus se sentem atraídos por
Pêssach, pois as raízes da festa na história judaica são profundas.
Pêssach celebra a saída dos Filhos de Israel da “casa da servidão”
egípcia e serve para nos lembrar da importância de continuar a luta pela
liberdade em cada geração. Além deste conceito espiritual fundamental, a
pompa e as comidas especiais relacionadas com Pêssach a tornaram algo
único entre as festas judaicas.
Pêssach começou e ainda continua sendo uma festa familiar. A Bíblia
(Êxodo 12) diz: “E falou o Eterno a Moisés e a Aarão, na terra do Egito,
dizendo: Este mês (Nissán) seja para vós, princípio dos meses;
seja ele para vós o primeiro dos meses do ano… No dia dez deste mês,
tome para si, cada homem, um cordeiro para cada família, um cordeiro
para cada casa.” Este cordeiro, o cordeiro pascal, devia ser mantido até
o décimo quarto dia do mês, quando era abatido, assado e compartilhado
pelos membros da família. Hoje em dia, este arranjo de manjares
associado com as comemorações do Sêderem família, como também
as comidas preparadas para o restante de Pêssach, continuam atraindo os
membros da família para que compartilhem da experiência de Pêssach.
Este capítulo apresenta respostas para muitas das perguntas feitas
sobre a comida de Pêssach e também às relacionadas com o tema da festa.
Isto foi lindamente resumido por Morris Joseph em sua obra “O Judaísmo
como Crença e Vida”: “Pêssach tem uma mensagem para a consciência e o
coração de toda a humanidade… Ele é o protesto de Israel, não o de Deus,
contra a injustiça. O mal pode triunfar por algum tempo mas, ainda que
seja perpetrado pelo forte contra o fraco, ele irá encontrar no final a
sua inevitável retribuição.”
Confira algumas perguntas e respostas sobre Pêssach:
Por que a comemoração de Pêssach é tão difundida?
A variedade de alimentos e a emoção das reuniões familiares fizeram
de Pêssach a festividade judaica mais popular. Um levantamento publicado
em 1980 pelo Dr. Iehudá ben Meir, da Universidade Bar Ilan, revela que
99 porcento dos judeus israelenses celebra algum tipo de Sêder, e 82
porcento não come os alimentos proibidos durante a festa. Em comparação,
somente 79 porcento come exclusivamente carne casher durante o ano e apenas 44 porcento observa a cashrut (leis alimentares) na íntegra.
Nos últimos anos do Segundo Templo, Pêssach era muito popular. O
historiador judeu Flavius Josephus e o historiador romano Tácito
estimaram o número de participantes que comemorava Pêssach em Jerusalém
no ano de 65 e.c. em não menos que três milhões. Este número corresponde
ao estabelecido no Talmud (Pessachim 64b), ao descrever o
censo feito pelo rei Agripa. Agripa ordenou que os sacerdotes do Templo
separassem um rim para cada cordeiro pascal oferecido. Como não menos
que dez pessoas compartilhavam o cordeiro, calculou-se pelo número de
rins separados que três milhões de judeus estavam em Jerusalém para
comemorar Pêssach (cinco anos antes da destruição do Templo).
Por que se come matsá em Pêssach?
A matsá é comida durante Pêssach para cumprir o mandamento
bíblico que comemora a partida repentina dos filhos de Israel do Egito:
“E levou o povo a sua massa antes que estivesse levedada” (Êxodo 12:34).
Esta mensagem é ampliada em Deuteronômio 16:3: “sete dias comerás,
nela, pães ázimos… porque apressadamente saíste da terra do Egito; para
que te recordes do dia da tua saída da terra do Egito, todos os dias da
tua vida.” A implicação deste verso, como interpretado pelos rabinos, é
de que é obrigatório comer matsá na primeira noite de Pêssach, mas é opcional nas demais – contanto que não se coma chamêts.
Por que não se come matsá durante todo o dia anterior a Pêssach?
A sensação de novidade de degustar a matsá durante o Sêder seria
perdida se ela tivesse sido comida antes, durante o dia que antecede a
festa. Rabi Levi, que foi o primeiro a propor esta regra, encontrada no Talmud de Jerusalém (Pessachim 10:1) colocava a questão assim: “Quem come matsá na
véspera de Pêssach é como alguém que tem relações íntimas com sua
futura noiva no lar do seu futuro sogro.” Alguns judeus se abstém de
comer matsá durante um mês inteiro antes da festa para valorizar ainda mais a experiência de comê-la pela primeira vez no Sêder.
Por que se comemora o Sêder?
O Sêder é um serviço especial feito em casa na primeira
noite de Pêssach e repetido na segunda noite pelas pessoas que
consideram o segundo dia como totalmente festivo.
O serviço original de Pêssach (ainda não se chamava Sêder) é descrito no Êxodo: cada família deveria abater e consumir um cordeiro.
Por vários séculos após o Êxodo, até que o rei Josias, de Israel,
instituiu as reformas mencionadas em Reis II, 23, o Pêssach não era
comemorado do modo prescrito na Torá. Após o estabelecimento do
Segundo Templo (século VI a.e.c), porém, a celebração de Pêssach foi
revivida e o verso existente no Êxodo (13:8): “E anunciarás a teu filho
naquele dia (a respeito do significado do Êxodo)” adquiriu novo sentido.
As celebrações mais importantes ocorriam em Jerusalém, para onde os
judeus de todos os lugares acorriam e ofereciam o sacrifício do cordeiro
pascal, que eles depois repartiam e comiam em conjunto com suas
famílias. Os judeus de fora de Jerusalém comemoravam a festa fazendo uma
refeição festiva. Com o tempo, as cerimônias, comidas simbólicas,
salmos e canções foram adicionadas à comemoração, que evoluiu até se
tornar o Sêder moderno.
Não está claro se o primeiro Sêder “moderno” formal foi
realizado, mas acredita-se que o Raban Gamliel II, no fim do século I
e.c. pode ter dado início à tradição. Foi ele quem declarou: “Quem quer
que não tenha dito estas três palavras em Pêssach não cumpriu o seu
dever: Pêssach (cordeiro pascal), matsá (pão não levedado) e marór (ervas
amargas)”. Os estudiosos interpretam esta frase como querendo dizer que
os judeus são obrigados a comer estes três ítens e a recitar a Hagadá,
na qual o simbolismo de cada um deles é explicado.
Por que se recita a Hagadá em Pêssach?
A Hagadá, tal como a conhecemos hoje, é um pequeno livro onde se
conta (resumidamente) a dramática história do Êxodo. Ela também contém
salmos e canções para recitar e cantar comemorando o evento. A Hagadá
foi introduzida pelos membros da Grande Assembléia há quase 2500 anos,
para cumprir o preceito bíblico “E anunciarás a teu filho naquele dia (a
respeito do significado do Êxodo)” (Êxodo 13:8). A Hagadá é, em
essência, um livro instrutivo, particularmente para os jovens e as
crianças.
[confira a Hagadá de Pêssach da Editora Sêfer]
Por que se servem quatro copos de vinho durante o Sêder?
Tradicionalmente, nas refeições normais de Shabat e dias de festa, se servem duas taças de vinho. A primeira se toma depois de recitar o Kidush no
começo da refeição; a outra é cheia e erguida enquanto se reza a Oração
de Graças Após as Refeições. Por ser Pêssach a Festa da Liberdade, uma
comemoração tão alegre e memorável, servem-se duas taças adicionais de
vinho durante o Sêder. Uma delas (a segunda taça do Sêder) é tomada logo após a leitura da Hagadá, imediatamente antes de se servir o jantar. A outra taça adicional (a quarta do Sêder) é consumida no fim do serviço, logo antes das canções e hinos de encerramento serem cantados.
Outras explicações tem sido oferecidas para o costume de tomar quatro taças de vinho durante o Sêder.
A mais popular estabelece que tomam-se quatro taças de vinho porque a
Bíblia usa quatro verbos diferentes para descrever o drama da Redenção
do cativeiro do Egito. As quatro citações à Redenção podem ser
encontradas no Livro de Êxodo (6:6-7):
1. E vos tirarei de baixo das cargas do Egito.
2. E vos salvarei do seu serviço.
3. E os redimirei com braço estendido, e com grandes juízos .
4. E vos tomarei por Meu povo.
Por que se coloca água com sal na mesa do Sêder?
Em Jerusalém, à época do Primeiro e Segundo Templos, era costume
mergulhar verduras (como entrada de uma refeição) em água salgada. Isto
provavelmente era devido em parte a motivos de saúde: o sal era
conhecido por seu valor anti-séptico, além do seu valor como condimento.
O sal era usado nos sacrifícios por sua ação preservativa: a carne se
mantinha fresca por mais tempo se tivesse sido salpicada com ele.
Uma explicação popular para o uso da água salgada na mesa do Sêder
relaciona este costume com as muitas lágrimas (salgadas) derramadas
pelos israelitas durante os seus anos de escravidão no Egito.
No Sêder, a água salgada é usada primeiramente para mergulhar o carpás.
Mais tarde, antes da refeição, um ovo cozido duro é embebido nesta água
por todos os participantes. O ovo é um lembrete do sacrifício sagrado (Corban Chaguigá) que era trazido para o Templo.
Em algumas casas hoje em dia, coloca-se um pequeno prato com água
salgada (ou vinagre) na bandeja do Sêder junto com os outros seis
alimentos simbólicos.
Gostou? Então baixe o checklist de Pêssach que preparamos para você não esquecer de nenhum item do sêder!
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